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Acerca do Plano Divino

A imensa rede material

Rigidez da morte

Setas do tempo cronológico

Energia e informação

Física do livre-arbítrio

Rigidez da morte

A eternidade material é como uma imensa rede de acontecimentos. Uma rede rígida, morta, se não fosse permeada pelo espírito.

... consequentemente, o sol do mundo espiritual, porque é puro amor, é vivo, e o sol do mundo natural, porque é puro fogo, está morto...

Swedenborg, Emanuel. Interaction of Soul and Body, 1769

Imagine-se uma imensa rede constituída por todas as cordas-partículas, as quais se entrelaçam num emaranhado cuja geometria, extremamente complexa, é explicada pelas leis da Física. Cada nó da rede é uma interacção, um choque, uma reacção química. Cada partícula de cada um de nós é, também, um desses filamentos ou fios ou cordas materiais.

Tal rede encontra-se absolutamente imóvel graças ao rigor dessas leis físicas que não admitem excepção nem alternativa.

 

O universo material é uma imensa rede. Cada “fatia” da rede

é o instante que surge à consciência.

Até ao aparecimento da vida biológica a rede é absolutamente rígida. Após esse momento da intervenção divina, a rede vai sofrendo alterações discretas mas fundamentais. Nada do que sucede nas células prescinde de intervenção superior. Mas é a presença da alma que acorda, espectacularmente, um mundo essencialmente morto.

A enigmática frase do Livro do Génesis refere que “o Espírito de Deus pairava sobre as águas.” Ao pairar sobre as águas, que podemos imaginar absolutamente paradas, destituídas de vida -- o mundo material -- o Espírito agita-as, infunde-lhes movimento, vida.

Desde o aparecimento do humano falante, cada arbítrio da alma, através da acção daquele em quem a alma encarna, constitui um pequeno milagre que “acorda” e muda a rede da eternidade material. Como se a rede iniciasse uma ondulação. Milagres aos quais se acrescentam os milagres propriamente ditos da intervenção do arbítrio divino, a Divina Providência. Compreende-se, agora, a proclamação de Jesus: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.”

A presença da eternidade em bloco significa que cada causa produz o seu efeito sem diminuir a sua existência. Tal como Deus criou o Seu Espírito (Santo) sem sacrificar a Vontade Una do Pai, tal como criou o mundo material sem sacrificar a sua plenitude espiritual. O que chamamos efeito não substitui a causa, acrescenta-se a esta. A causa não é sacrificada a favor do nascimento do efeito. Ambos coexistem. Só que, no mundo material, o efeito está situado mais adiante na linha cronológica do tempo aparente, no futuro. No mundo espiritual, o efeito está dentro da causa.

Setas do tempo cronológico

É indispensável fazer a pergunta inconveniente. Porque percebemos o tempo do passado para o futuro e não ao contrário? Afinal, os dois tempos são equivalentes. Porque é esta, a seta do tempo?

O futuro é o que vem “depois” o que ainda não se encontra registado na memória que a consciência acumula e da qual se serve para entender os sucessivos presentes que percorre e de que faz parte. Necessário é caracterizar esse futuro, ver como é que difere do passado.

Temos à disposição três categorias físicas: matéria, energia e informação. De fatia para fatia cronológica, a matéria transforma-se, muda de posição, ora se aglomera ora se dispersa, sem assinalar, nesta diversidade, qualquer regularidade essencial para além de certas repetições cíclicas que os antigos astrónomos se apressaram a registar.

A energia e a informação, pelo contrário, são categorias genéricas, acessíveis a uma quantificação poderosa. Não é de admirar que a observação metódica do aparente caos da matéria recorra à energia e à informação para o esclarecer. A informação descreve o que é; a energia altera o que era.

Tal esclarecimento recorre, como não poderia deixar de ser, ao fluir da consciência através do tempo, ao que se designa como “a nossa experiência.” Tal fluir não é ilusão nem divertimento, é o método que o Criador nos proporciona para entender a grande rede material e dela retirar o partido mais conveniente.

 

O aparente caos da matéria...

Há duas setas do tempo. Uma, a seta da informação; a outra, a seta da energia. Não há mistério no conceito de tais setas. A informação acumula-se; de onde provém? A energia transforma; o quê no quê?

Quanto à informação. Caminhamos para o futuro, é o que se diz. Isto só pode querer dizer que o futuro vem ter connosco, que a informação procede do futuro. Diz-se que o passado está morto. Melhor seria dizer que o passado é mudo. Do passado que vivemos sobra a memória que dele fala. Mas a memória é presente em permanência. A ideia vulgar é a de que a informação provém do passado. Ora, a informação do passado, tal como o vivemos, está registada em cada presente da memória física, não vem de lado nenhum.

Quanto à energia. É intuitivo que caminha para o futuro. O que eu faço sobre a matéria afecta o futuro, não parece afectar o passado. O caso, muito especial, do entrelaçamento quântico, referido, exige isolar as partículas entrelaçadas do resto do mundo, encontrando-se na confluência da energia com a informação. Disso trataremos ao referir a física do livre-arbítrio.

 

Mas quanto à energia, mais devagar! Quando se pensava que o passado já não existia, a energia teria de fluir, necessariamente, para o futuro, fazendo-o nascer. Agora, sabemos que o passado permanece, ainda que, como veremos, o passado possa não ser o que já foi. Quem nos garante que os efeitos energéticos de uma acção não se distribuem nos dois sentidos do tempo cronológico? Mesmo que não percebamos a eventual influência sobre o passado pois que recebemos informação do futuro. Felizmente que é fácil, pelo cinema, trocar passado e futuro.

Façamos uma experiência: Uma pedra é largada de certa altura. Sob a acção da força gravítica (peso) a pedra cai com velocidade crescente. Imaginemos o filme do acontecimento, visto ao contrário, a seta do tempo relativa à energia invertida: veremos uma pedra a subir com velocidade decrescente.

Como interpretar o acontecimento se vivêssemos o tempo em sentido inverso? Diríamos que a velocidade da pedra decresce porque a força da gravidade contraria o seu movimento. Muito bem! Mas como poderia, a pedra, ter iniciado a subida?

A força gravitacional explica o movimento mas não o seu início. Vendo o filme na ordem certa, a força gravitacional explica tanto o início como o decurso do movimento.

Vejamos outra situação, similar. Alguém puxa um carrinho por meio de uma corda, sobre uma superfície horizontal. O carrinho adquire velocidade crescente sob o efeito da força exercida. No filme ao contrário, a pessoa não puxa o carrinho, trava-o até conseguir detê-lo.

 

Do passado para o futuro : o movimento do carro é plenamente explicado. Do futuro para

o passado: o movimento do carro é explicado mas não o início do movimento.

Se o tempo decorresse ao contrário, a acção tornar-se-ia reacção. A causa iniciadora dos acontecimentos nunca se manifestaria. Qualquer tentativa de alterar o passado a partir do futuro estaria, pois, votada ao fracasso.

Não só a iniciativa estaria vedada. Certos processos tornar-se-iam impossíveis. Um bloco de metal a elevada temperatura, mergulhado em água fria, arrefece enquanto a água aquece. O filme passado ao contrário mostraria a água, mais fria, a arrefecer, e o bloco, mais quente, a aquecer. O que é impossível. A transmissão de calor faz-se por colisão entre partículas. Numa colisão, as partículas trocam as suas velocidades, a mais rápida fica mais lenta e reciprocamente. As partículas do bloco, mais quente, são mais rápidas e ficam mais lentas à medida que o bloco arrefece. As partículas da água, mais fria, são mais lentas e ficam mais rápidas à medida que a água aquece.

É de concluir que nem a iniciativa nem a própria Física podem operar do futuro para o passado.

 

Em imaginação, pode percorrer-se o tempo ao contrário uma vez que todos os tempos estão presentes. O que não pode é alterar-se uma situação da malha espacio-temporal e esperar que a perturbação alastre ao passado seguindo as inevitáveis leis da Física que a sustentam.

A retro-causalidade parece indicar o contrário: a possibilidade de afectar o passado… Porém, na retrocausalidade, o sistema que a experimenta está isolado do resto da malha material. Se não estivesse, o entrelaçamento seria desfeito e o fenómeno não teria lugar.

Assim, a consciência caminha para o futuro à medida que o livre-arbítrio o altera promovendo, no presente, perturbações que para esse futuro alastram. Deste modo, a consciência acompanha as perturbações que determina estando sempre capaz de dar continuidade às suas estratégias de vida.

Tal como, quando viajamos, vemos a paisagem vir ter connosco à medida que a perturbamos com a nossa presença. Quanto ao passado, não depende do arbítrio que se exerce em cada presente. Pode, portanto, ser dado como certo. O passado só muda por efeito de um passado que lhe seja anterior.

Energia e informação

Qual a relação entre energia e informação na ocorrência das alterações da malha espacio-temporal provocadas pela consciência? Notar o termo “alterações.” Não se trata de criar o futuro a partir do passado. Trata-se de alterar, por acção do livre-arbítrio da alma, um tempo já existente na rede da eternidade.

Todos os futuros possíveis em relação com um dado presente envolvem diminuição da energia potencial no conjunto dos sistemas materiais implicados. A energia potencial reside na existência de alguma diferença entre duas ou mais partes de um sistema. A pedra, largada do alto, aproxima-se da Terra. Caso coincidisse, imóvel, com o centro da Terra, não haveria movimento. Se dois recipientes em contacto contivessem água à mesma temperatura, tal temperatura permaneceria. Nada acontecia. O vento sopra da pressão mais elevada para a pressão mais baixa. Um sistema homogéneo não evolui.

Por seu lado, a informação é diferença que não envolve energia. As diferentes posições de um dado distinguem-se apenas pela informação que lhes corresponde.

 

Diferente informação, igual energia.

Diferentes posições de um ovo distinguem-se pela energia potencial. O ovo, abandonado a si próprio, tenderá a assumir uma qualquer das posições, A ou B, a que corresponde menor energia potencial gravítica.

 

A e B são posições de equilíbrio energético.

Sendo assim, a diminuição de energia potencial tem como contrapartida um aumento da quantidade de informação. Tal conversão é que caracteriza a chamada “passagem do tempo” cronológico.

A informação é a enumeração, efectiva ou possível, de estados de equilíbrio equivalentes.

Uma vez que, do passado para o futuro, diminui a energia potencial, aumenta o número de estados de equilíbrio e, portanto, a quantidade de informação. A quantidade de informação é medida, em escala logarítmica, pela entropia.

Física do livre-arbítrio

O livre arbítrio opera sobre informação pura. A escolha que opera será entre alternativas rigorosamente equivalentes em termos de energia.

Todos os processos físicos da consciência ocorrem no cérebro. O pensamento do animal está em desequilíbrio permanente, a tal corrente da consciência, violenta no animal inferior, mais larga e serena, no animal superior. Para que a alma possa intervir, o pensamento da pessoa há-de deter-se num estado de perfeito equilíbrio energético. Completamente, na meditação ou nas artes mediúnicas, quase completamente durante a actividade corrente. O preceito da quietude budista aponta para essa necessidade de deter ou travar a dinâmica natural do pensamento a fim de permitir à alma dirigir a acção. A oração repetitiva tem a mesma função.

A alma apenas pode operar, intervir, em situações de absoluta indecisão da consciência animal. Como se saísse do comboio quando este se detém nalguma estação. E o comboio detém-se tantas mais vezes quanto mais a alma estiver no comando do movimento. Isto é, a alma opera mas apenas quando pode operar. Procura dirigir o pensamento do animal humano criando impasses frequentes de modo a poder decidir mais vezes.

O que nos permite concluir que a alma tem de implicar-se intimamente no processo mental do humano. Não é um mero visitante, é um residente.

É neste contexto que as almas introduzem na consciência humana o pequeníssimo acréscimo de energia indispensável a motivar um pensamento, uma decisão.

A consciência animal opta, imediatamente, segundo a lei da maior perda de energia potencial, o a que chamamos preferência. Ao contrário, a consciência humana fica suspensa, num estado de equilíbrio físico. Tem então lugar a opção espiritual.

O livre-arbítrio inicia uma cascada de processos mentais que começam na vontade e terminam na acção.

 

Consciência no animal.

 

Consciência no humano.

Compreende-se agora porque a alma nem sempre está connosco. Nem estará nunca em animais cujo cérebro é mais rústico. Quando o pensamento é excessivamente impetuoso, desequilibrado, a alma não o pode deter ou conter. O pensamento satânico é exclusivamente animal. Não significa que seja rústico, a sua ardilosidade é extremamente elaborada. Significa que é impiedoso, incapaz de se deter. Se porventura parece deter-se é porque anda à roda de si mesmo, a sua indecisão resulta da análise objectiva e mecânica das possibilidades que se lhe apresentam.

O livre arbítrio deveria designar-se por arbítrio da alma.

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