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Acerca do Plano Divino

A epopeia da alma

A morte física e a morte no espírito

A alma no cruzamento dos tempos

O sobrenatural -- Entre o material e o espiritual

Experiências de quase morte, EQM

Experiências fora do corpo, OBE

A morte física e a morte no espírito

O que é o indivíduo? Se a consciência é o diálogo consigo mesmo, quem é o mesmo? Os psicólogos inventaram entidades misteriosas que nada mais são que o abrigo da ignorância num termo sem substância: o ego, o self… O indivíduo é o protagonista da memória. A memória achata os tempos cronológicos num tempo único tal como uma foto ou desenho reduzem a tridimensionalidade espacial à bidimensionalidade da folha de papel. Como o tempo do Espírito é um eterno presente, a memória física imita o mundo espiritual.

As subjectividades pessoais, as quais, no mundo material, se encerravam no indivíduo -- feito pessoa pela alma -- tornam-se exterioridade no mundo espiritual, isto é, são imediatamente percebidas por outras almas. Assim, as memórias do mundo conjugam-se, no Espírito, numa memória comum.

Mas não todas as memórias.  Se a alma é imortal -- no sentido absoluto de coisa indestrutível, parte do Espírito (Santo) de Deus -- será que a pessoa o é? O facto de a alma se implicar no indivíduo, tornando-o pessoa, não significa que com ele se identifique. Se a alma transporta a pessoa para o espírito e, com a pessoa, o indivíduo, é, depois, desembaraçada das características individuais que não foram integradas na pessoa. O que resta da pessoa, assim libertada, designamos por personalidade. A personalidade é a alma imbuída de uma forma individualizada, espiritualmente aceitável.

A pessoa vive no Espírito, como personalidade, tanto mais vincadamente quanto mais a alma se houver implicado na existência do indivíduo. Em ponto anterior, viu-se que a alma é configurada pela existência objectivada. Quanto mais nitidamente configurada, mais da pessoa sobrevive. Por outro lado, nem todas as configurações serão admitidas. O Espírito é lugar de paz que não aceita personalidades conflituais.

A pessoa é preservada no Espírito de acordo com o mérito. A pessoa do santo é completamente resguardada; a do criminoso é completamente anulada. A alma, sujeita ao purgatório, perde a parte imprópria da pessoa que carregava, restando um vestígio, a personalidade.

A descrição que faz Santa Catalina de Génova no seu Tratado do Purgatório, já referido, é elucidativa. No Purgatório, a alma é purgada das entorses que sofreu ao assistir a existência física do indivíduo. Do criminoso pouco sobrará. Do virtuoso quase tudo ficará. A morte verdadeira, a morte no espírito, é uma questão de grau.

 

Alma pura do nasciturno. Alma na morte

 física. Alma após o purgatório.

No mundo material somos pessoas, no mundo espiritual somos personalidades. A personalidade exclui da pessoa detalhes sem significado, reunindo o que interessa, o que possui e faz sentido, o que valeu as penas e, agora, vale a pena.

É assim que, no mundo espiritual, podemos ou não recordar elementos que fizeram parte permanente da nossa vida, o cônjuge, os filhos, os pais, a casa onde vivemos décadas. Estamos presentes no mundo espiritual não como entidade separada, como pessoa, muito menos como indivíduo, mas como elemento particular de uma realidade única, como personalidade.

Daí que, de acordo com relatos das consciências que experienciaram o mundo do Espírito -- experiências místicas -- cada um é ainda ele próprio mas fundido numa totalidade da qual aspectos, ainda que salientes, da vida material podem estar estranhamente ausentes. Em tais relatos, detalhes da vida terrena encontram-se desvanecidos ou desvalorizados no oceano do pensamento espiritual.

O espiritismo ignora tais subtilezas. O espírito (alma) do Manuel encarnará numa Maria. Imagina que o Manuel continua intacto no Espírito, com as suas pequenas recordações e manias. De modo que, antes de reencarnar, é sujeito a um processo, misterioso e assustador, uma espécie de hipnose, num certo hospital do Espírito. A verdade é que, do Manuel, apenas a personalidade, algo muito mais geral que o indivíduo, persistia no Espírito. Será com tal bagagem aligeirada que a alma regressa à Terra.

Entretanto, o mundo espiritual é um meio, tanto activo como passivo. Um exemplo cru: o ar é um meio passivo onde se propaga o som e é, ao mesmo tempo, um meio activo onde se geram os ventos. Este aspecto permite a comunicação entre encarnados, seja por pacífica mediunidade seja por possessão sob inspiração demoníaca.

A imensidade do espírito é-nos lembrada pela imensidão do universo. Será possível traduzir em termos da consciência física a vivência da alma? O autor da citação pensava que sim, há quase cem anos, apoiado em comunicações espíritas que colectou e descreveu:

... antecipar a aurora, não distante, de um dia em que se chegará a apresentar à humanidade pensante, que atualmente caminha a tatear nas trevas, um quadro de conjunto, de caráter um tanto vago e simbólico, mas verdadeiro em substância e cientificamente legítimo, das modalidades da existência espiritual nas esferas mais próximas do nosso mundo, esferas onde todos os vivos terão de se achar, depois da crise da morte. Isto permitirá que a Humanidade se oriente com segurança para a solução dos grandes problemas concernentes á verdadeira natureza da existência corpórea, dos fins da vida, das bases da moral e dos deveres do homem.

Bozzano, Ernesto. A crise da Morte (obra referida)

Projecto muito mais difícil de realizar que de antecipar. É o que, por aqui, tentamos. Que a compreensão da vida da alma não é assunto supérfluo, é o que nos sugere o seguinte texto:

O curso dos acontecimentos ainda está a desenrolar-se, como tem sido desde antes da começo do mundo. Lemos nas páginas do Bíblia que Deus estava preparado para a queda no Jardim do Éden. Ele planeou que, através da morte física dos humanos, a extensão do seu pecado poderia ser mantida em suspenso. Ele prometeu libertar de todo o pecado aqueles que escolherem ser libertos. Por meio de Cristo, o Adão sem pecado, Deus, graciosamente, providenciou a herança da vida eterna em comunhão com ele. Por meio de Cristo enviou o Espírito Santo para selar a promessa, arrolando, com segurança, todos os que escolhem a vida eterna com Deus. O Espírito Santo capacita aqueles em quem vive a participar, preparando-se para a nova criação, sobretudo tornando-se convites vivos para que outras pessoas se juntem a esta nova e eterna vida.

Ross, Hugh. Beyond The Cosmos -- The Transdimensionality of God.

A alma encontra-se nos dois planos, assiste o mundo material mas pensa em termos espirituais. O livre arbítrio é a manifestação do pensamento espiritual no mundo material. O pensamento espiritual não é produto da alma. Manifesta-se pela alma, é livremente declarado pela alma, mas envolve todo o mundo espiritual como se fora o pensamento de Deus.

A alma no cruzamento dos tempos

O nascimento e a morte marcam limites à existência individual dentro da linha cronológica da eternidade física. Mas nada têm a ver, tais momentos, com a duração dessa existência no tempo do Espírito. Neste momento do tempo espiritual -- no passado presente, segundo o código que adoptámos -- os meus pais continuam vivos em todos os momentos da sua existência terrena, assistidos pelas respectivas almas. Num futuro do tempo espiritual, num passado posterior, estando a eternidade muito alterada pela acumulação e conjugação de uma infinidade de arbítrios sejam da alma sejam da Divina Providência, a vida dos meus pais deixa de existir na eternidade. O que ficou? A sua personalidade, protagonizada, no Espírito, pelas suas almas redimidas. Será que se lembram de mim?

A eternidade, embora íntegra e permanente, não preserva a sua forma, A minha vida pode vir a ser submergida, no tempo do Espírito, por uma das múltiplas ondas que se levantam do passado, de um passado renovado que induz um novo futuro.

Entretanto, a alma permaneça onde está, no Espírito (Santo) de Deus, ligada ao cérebro através de numerosos níveis ou instâncias sobrenaturais da existência, a fim de, com este, constituir a mente. Lembrar que o cérebro faz parte de um universo eternalista. Que o prodígio da mente, a consciência, só pode entender-se, não por um cérebro pendurado do presente, mas por uma cadeia de cérebros entrelaçados, distribuídos ao longo do tempo cronológico. A alma vem acrescentar ao extraordinário poder do encadeamento cérebral o seu arbítrio, informado por uma experiência ampla ancorada em toda a extensão cronológica da sua actual encarnação.

Não é fácil conceber uma alma que experiencia, simultaneamente no tempo do Espírito, todos os momentos da vida em que encarna. No entanto, é necessário aceitar que assim é. Se o passado ainda lá está, se o futuro já lá está, também lá está a faculdade do livre-arbítrio e, portanto, a presença dessa alma. Infelizmente, parece que a alma não tem a faculdade de se distanciar o bastante de cada situação concreta e tomar em conta todas as situações que compõem o destino. Nem sempre uma manobra desastrada é corrigida por um arbítrio posterior (no tempo do Espírito) ou porque a alma está como que fascinada pelas circunstâncias que rodeiam e determinam a tal manobra ou porque receia tomar a responsabilidade de alterar um destino já presente. Como um alcoolico que procura deixar de beber e todos os dias volta a encher o mesmo copo da mesma bebida. Mesmo assim, a alma possui um património muito superior ao do cérebro, limitado, este, à experiência imediata e à indispensável memória. Demonstra-o, precisamente, na magia do seu arbítrio.

O momento da morte é apenas o limite cronológico, físico, da vivência da alma no material. A encarnação permanece sobre os tempos cronológicos anteriores, até ao nascimento, e até que uma onda vinda do passado afunde tal vida sob outra forma de destino.

Insista-se: a encarnação permanece, no tempo do Espírito, após a morte cronológica. Persiste com a existência física enquanto esta não for varrida e anulada por uma nova ondulação proveniente do passado a ir varrendo o universo eternalista. A alma só então fica liberta do corpo. Nessa altura do tempo do Espírito poderá voltar a reencarnar seja num tempo cronológico do passado ou do futuro.

 

A ondulação do universo tem como efeito outra dificuldade para a alma que é a de ter de acompanhar vários destinos da mesma pessoa. Recordar o exemplo anterior em que a alma vive no Brasil e em Portugal ao mesmo tempo. Ainda que a pessoa se suicide num destino, continua viva no ou nos destinos que sucedem, por não terem sido interrompidos, aquele que interrompeu.

Todas estas considerações dão para suspeitar da grande complexidade da ligação entre a alma e a mente ou mentes (e os corpos associados). Porém, as narrativas de EQM demonstram que tal ligação é muito directa, permitindo que a mente recupere e traduza experiências da alma.

Situemos-nos no tempo de Espírito, mais abrangente. Recordemos que a um dado instante espiritual corresponde uma certa eternidade e que, num instante seguinte, a eternidade será outra, tendo surgido outras vidas e desaparecido algumas das antes existentes.

No cruzamento do momento cronológico e do instante espiritual em que a comunicação espírita ocorre, ou a alma está encarnada na pessoa visada pela comunicação (a pessoa está viva) ou a pessoa está morta (embora viva num tempo cronológico anterior) da eternidade vigente ou, caso extremo, nem sequer a sua vida faça parte da eternidade vivida pelo comunicador. Não será possível dialogar com pessoas que testemunhem do nosso passado alterado? Falar com pessoas em circunstâncias que não existem na nossa linha cronológica de acontecimentos mas que existem noutra cronologia?

Deu-se o exemplo de ter-se ido viver no Brasil, iniciando uma certa cronologia de acontecimentos. Depois, no tempo do Espírito, reverteu-se a decisão para se viver, afinal, em Portugal. É desta vida em Portugal que me recordo. Seria interessante falar com pessoas que têm convivido comigo no Brasil, no passado anterior.

Outro exemplo. Uma criança faleceu durante o parto; não existe nesta linha cronológica. Entretanto, no tempo do Espírito, os assistentes ao parto conseguem salvar a criança. Ela existe noutra linha cronológica, uma onda que avança sobre a nossa. Poderemos, então, através da mediunidade, perceber a existência da criança que julgávamos morta mas que está viva num passado posterior. Julga-se que a mediunidade tem registado exemplos assim.

Deve insistir-se em que a mediunidade manifesta pessoas e não almas. Se uma pessoa está sob o efeito de uma possessão, não é uma outra alma que a possui mas, sim, outra pessoa através do meio espiritual.

No tempo do Espírito, a alma pode estar encarnada e desencarnada ao mesmo tempo. Distribui o convívio tanto com outras almas ou espíritos superiores como com as circunstâncias materiais da vida em que encarna. A “nova e eterna aliança” referida por Jesus, aliança entre o Pai e cada indivíduo por intermédio do Espírito (Santo) de Deus é aqui formulada em termos de uma alma que ocupa o centro da mente (melhor dizendo, a sua periferia subjectivada) e, por tal, não se deixa ver mas se manifesta constante, embora imperfeitamente, nos pensamentos e actos da pessoa. Santa Teresa de Ávila assim o concebia no Castelo Interior, atrás referido.

O sobrenatural -- entre o material e o espiritual

Temos à disposição vários tipos de fontes. As experiências de quase morte, EQM, são espontâneas, seguras mas incompletas pois dão apenas conta dos preliminares da vida depois da morte. Para adentrar essa vida restam as entrevistas sob hipnose, problemáticas, ou as comunicações mediúnicas, ainda mais problemáticas. Umas e outras acrescentam artefactos que podem prejudicar a verosimilhança da narrativa. A dificuldade maior estará na tradução de uma realidade qualitativamente diferente, espiritual, em termos da realidade material, a única que o investigador pode entender. Vejamos, mesmo assim, se os relatos dão conta da principal característica da alma: a sua abrangência.

Experiências de quase morte, EQM

As experências de quase morte referem-se à vívida recordação de episódios que ocorrem em sujeitos cuja actividade cerebral é registada como nula ou praticamente nula, devido a paragens cardio-respiratórias na sequência de algum acidente clínico ou rodoviário. No prefácio do livro em epígrafe, o primeiro que abriu uma perspectiva organizada das experiências de quase morte, EQM, lê-se:

A pesquisa, como a que o Dr. Moody nos apresenta no seu livro, esclarecerá muitas questões e confirmará o que nos tem sido ensinado desde há dois mil anos: que há vida depois da morte. Embora o Dr. Moody não pretenda ter estudado a própria morte, fica evidente, pelas suas descobertas, que o paciente moribundo continua a ter informação consciente do seu ambiente depois de ter sido declarado clinicamente morto. Isso coincide em muito com a minha própria pesquisa, que utilizou relatos de pacientes que morreram e vieram de volta, totalmente contra as nossas expectativas e muitas vezes para surpresa de alguns médicos bem conhecidos, altamente especializados e certamente competentes.

Todos esses pacientes experimentaram o ato de flutuar para fora de seus corpos físicos, associado com uma grande sensação de paz e totalidade. Muitos estavam cônscios de outra pessoa que os ajudava na sua transição para outro plano de existência. A maioria foi saudada por pessoas amadas que tinham morrido antes, ou por alguma figura religiosa coincidindo, naturalmente, com as suas próprias crenças.

O Dr. Moody deve estar preparado para críticas, vindas principalmente de duas áreas:

Haverá membros do clero que ficarão perturbados por quem quer que ouse pesquisar uma área supostamente tabu.  Alguns representantes de grupos religiosos já expressaram o seu descontentamento diante de estudos como este. Um sacerdote referiu-se a "vender barato a graça". Outros sentem que a questão da vida depois da morte deve permanecer uma questão de fé cega.

O segundo grupo de pessoas do qual o Dr. Moody pode esperar que reajam ao seu livro com preocupação é o dos cientistas e médicos que encaram estudos deste tipo como algo "não científico".

Penso que alcançamos uma era de transição na nossa sociedade. É preciso ter a coragem de abrir novas portas e admitir que os nossos instrumentos científicos atuais são inadequados para muitas dessas novas investigações.

Elisabeth Kubler-Ross in Moody, Raymond. Vida Depois da Vida. Nordica, Brasil (obra já referida).

Em termos muito gerais, que recorda a consciência das experiências de quase morte? Notar que a vivacidade da recordação distingue as EQMs dos sonhos comuns.

Um túnel de luz e um movimento ascendente através deste. Chegada a um enorme espaço livre, brilhante, branco ou a uma paisagem de beleza sobrenatural. A sensação de falar com alguém que tranquiliza, seja um guia ou um ou vários familiares. A possibilidade de criar uma imagem de si, percebida pelas outras almas presentes. Alívio por já não estar na Terra, na prisão do corpo, bem estar, sentimento de unidade, de amor. As ideias determinam o aspecto do próprio e o entorno. Permanecem, ou não, impressões ou, mesmo, vivências íntegras da vida que se encerra, por vezes como que projectadas numa tela. Desejo de não retornar que só é demovido se, ao paciente, for lembrado que deixou alguém que dele precisa ou algum projecto importante por concluir. O tempo é experimentado diferentemente. Horas fora do corpo correspondem a minutos no plano físico; por vezes certo futuro ou certo passado manifesta-se por conhecimento ou visão.

Quem experiencia a EQM consegue observar “de fora” o que acontece em redor do corpo. Por vezes, a sua consciência percorre locais circundantes, que não conhecia antes, e deles dá uma descrição exacta.

As EQM são experiências dirigidas. Se a consciência se sente inicialmente confusa ou, pelo menos, perplexa, há sempre alguém, um guia, que a conduz, que a tranquiliza, que a dirige através de ideias induzidas como que telepaticamente. Quase sempre, o referido guia parece integrar-se numa hierarquia pois que interage com alguém que, por sua vez, determinará a sequência da experiência. Caso o experienciador insista em permanecer no plano onde se encontra, por se achar num estado de conforto e felicidade extremos, a figura principal lembra-lhe que ainda não completou a sua função terrena e que, portanto, deve regressar.

Experiências fora do corpo

Em tradução, out of body experience, OBE.

As experiências fora do corpo, OBE, que não são EQMs são induzidas por estados próximos ao do sono. Têm muitos aspectos em comum com as EQM, desde logo a memória clara da aventura e a possibilidade de descrever circunstâncias a que não pode ter acesso físico. Enquanto as EQM são experiências excepcionais para quem as vive, as OBE podem ocorrer com grande frequência a um sujeito propenso, seja a partir do sono ou do estado de vigília.

Sendo assim, são as OBE que podem facultar mais elementos descritivos e conceptuais sobre o mundo próprio das almas, o mundo do Espírito. Por outro lado, o contexto, geralmente público, da ocorrência das EQM, os testemunhos colaterais, contribuem para lhes conferir fidedignidade. Milhares as EQM devidamente confirmadas.

Durante o sono, ocorre sempre uma OBE, ainda que limitada no seu alcance, eventual duração e clareza. A diferença relativamente a uma OBE propriamente dita está em que a consciência é plena na OBE assim como a correspondente recordação ao contrário da OBE ado sonho.

Quem experiencia EQMs ou OBEs manifesta três alterações notáveis:

-- Passa a acreditar na vida depois da morte e percebe que essa é a verdadeira vida. O receio de morrer extingue-se, sendo que o desejo de prolongar a existência no plano material deixa de resultar do mero instinto de sobrevivência e passa a radicar-se na vontade de servir ou de completar um certo projecto que justifica tal existência.

-- Adquire faculdades de intuição que não possuía ou aumenta-as se estavam presentes. Por vezes, essas faculdades são incómodas pois que o pensamento alheio, ainda que desagradável, se lhes torna perceptível.

-- Sente a necessidade de partilhar a sua experiência e percebe que a sua felicidade se combina com a felicidade do outro. Experimenta um sentimento de paz interior.

A faculdade de recordar uma OBE é indispensável para não desperdiçar a “realidade” das mesma. Enquanto a experiência de quase morte se insere directamente na consciência e nunca mais é esquecida mesmo nos detalhes, a experiência fora do corpo, equiparada ao sonho, pode dissolver-se:

Você poderá ter tido experiências maravilhosas durante as suas viagens astrais, mas se não for capaz de trazer essas memórias de volta ao mundo físico, perderá informações valiosas! Será como se nunca tivesse acontecido, mesmo que tenha acontecido. As experiências podem ser incrivelmente vívidas, mas as memórias delas, como as memórias dos sonhos, têm o hábito irritante de desaparecer a menos que sejam tomadas precauções.

Quando estiver de volta ao seu corpo, não se mova da posição em que acordou e não pense nas preocupações do dia. Mantenha os olhos fechados e tente lembrar-se de experiência. Uma das principais causas do esquecimento dos sonhos é a interferência de outros pensamentos que competem pela sua atenção. Portanto, que seu primeiro pensamento ao acordar seja: "Que estava eu a sonhar?" Tente lembrar-se de tudo o que puder. A coisa mais importante que  pode fazer para aumentar as suas lembranças é manter um diário escrito onde registar tudo, imediatamente após acordar.

Agarwal, Abhishek. Astral Projection: Amazing Journeys Outside Your Body.

Enquanto a EQM é uma experiência dirigida, a OBE é essencialmente livre embora sejam narrados episódios em que o experienciador recebe alguma orientação de uma entidade referida, depois, como “anjo guardião”; também pode suceder que o viajante astral encontre barreiras que não pode transpor.

Como a OBE é uma experiência deliberada, é natural que, a partir da mesma, o experienciador sistemático queira retirar uma teoria. Todas as teorias se exprimem em termos de planos, desde o plano material até um plano supremo onde a ideia de um Deus absoluto se impõe.

Tais planos são visualizados como ascendendo embora os teóricos insistam em que tais planos “ocupam o mesmo espaço” distinguindo-se por “diferentes níveis vibracionais.” Claro que esta distinção é mais alegórica do que explicativa.

Ao contrário de uma escadaria, os planos parecem interpenetrar-se de modo a assegurar a transição entre eles.  O número de planos ou regiões varia muito de autor para autor. Uns apontam três, outros, apoiando-se em cosmologias tradicionais, preferem falar em dezenas, ou mais, obtidos pela partição dos planos mais fundamentais.

Esquemáticamente, podem distinguir-se, com segurança, três planos -- material, etérico e astral --. O plano etérico está fortementemente associado ao plano material, sendo complementar deste uma vez que é indispensável ao seu funcionamento. Todas as formas de vida biológica, animal ou vegetal, dependem da presença do seu duplo etérico, desde os humanos atá à menor bactéria. Recordem-se os campos morfogenéticos propostos pelo biólogo Rupert Sheldrake.

O duplo etérico, para o qual parece transferir-se a consciência, embora continue ligado ao corpo material por um suposto “cordão” tem a capacidade de voar através do mundo. É esta faculdade que reforça a imagem dos planos etéricos ou astrais como estando “acima.” De tais planos “vibracionais” estaria ausente a força gravitacional.

Notar que não se trata de uma transferência de consciência entre duas entidades mas da sua distribuição ponderada. Quando a consciência sensorial, cerebral, fica diminuída, a consciência astral assume o comando.

Talvez exista uma correspondência biunívoca entre as entidades presentes nos diferentes planos. Ainda que assim seja, novas entidades, com propriedades próprias (passe o pleonasmo) podem resultar da união ou relação entre entidades menores. Assim, nos níveis superiores ao (ou do) plano astral encontramos entidades angélicas ausentes do mundo material.

 

Aceite uma correspondência necessária entre os sucessivos planos da realidade, ficamos com o problema de elaborar um esquema funcional que dê conta de tal correspondência. Deparamo-nos com a eterna questão da dualidade Espírito - Matéria. Querendo avançar, ou se tende a espiritualizar a matéria ou a materializar o espírito. À partida, parece irrelevante. Mas pode estabelecer-se uma distinção definitiva e absoluta: há Espírito quando se manifesta o livre arbítrio; há matéria quando são regras pré-estabelecidas que imperam. Já no plano material se observa a presença do Espírito. Depois, ascendendo, acentua-se a intervenção, mais frequente, do livre-arbítrio.

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